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Água com mel e canela trata infeções urinárias?

13 Jul 2023 - 11:09
falso

Água com mel e canela trata infeções urinárias?

Circula nas redes sociais uma suposta cura natural para as infeções urinárias. No Facebook, há várias publicações sobre o mesmo “remédio” caseiro: água com mel e canela.

A receita consiste em adicionar “duas colheres de chá de canela em pó e uma colher de sopa de mel num copo de água morna”. Depois, aconselha-se a ingestão do preparado como forma de tratar infeções urinárias. Mas existe evidência científica que comprove a eficácia deste método?

Beber água com mel e canela trata infeções urinárias?

água com mel e canela

Em declarações ao Viral, Anabela Rodrigues, nefrologista e professora no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), adianta que não há evidência científica de que beber água com mel e canela trate infeções urinárias.

Aliás, a evidência científica em torno dos produtos naturais é, quase sempre, “escassa ou nula”, refere a professora do ICBAS.

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Ainda assim, acrescenta a especialista, “qualquer formulação de mel e canela não é nociva para a saúde, desde que não seja consumida em excesso”.

A nefrologia reitera, contudo, que não há estudos que indiquem que esta bebida “seja eficaz no tratamento de infeções urinárias”.

“E fazer isto pode acarretar riscos”, alerta. Porquê? O doente pode “subtratar e deixar evoluir para uma infeção com sintomas mais graves”.

Além disso, frisa a médica, “a ciência exige antimicrobianos para uma determinada estirpe bacteriana”. Isto é, “prescreve-se antibióticos diferentes consoante a bactéria infetante, portanto, qualquer tomada de posição generalista está errada”.

Para mais, “a eficácia de um agente, ou a sua ação, depende muito da forma como é feito, como é formulado, a forma de administração e a dose”, esclarece. No caso da água com mel e canela, nenhum destes parâmetros é rigoroso.

Qual o tratamento para as infeções urinárias?

água com mel e canela infeções urinárias

O tratamento das infeções urinárias “passa por fármacos testados e com evidência científica”, nomeadamente antibióticos, adianta Anabela Rodrigues. Assim, “nas infeções urinárias banais”, a recomendação é “uma toma única de fosfomicina”.

No entanto, na visão da professora do ICBAS, é necessário ter algum cuidado no diagnóstico da infeção, uma vez que a toma de antibióticos sem necessidade pode levar à criação de resistência aos medicamentos.

Anabela Rodrigues diz ser comum as mulheres – que são as mais afetadas por infeções urinárias – terem sintomas como “a ardência ao urinar” ou “desconforto” e pensarem que têm uma infeção urinária e que precisam de tomar antibiótico de imediato. Contudo, estes sintomas podem, por vezes, ser sinal de “um desconforto vulvovaginal e não uma infeção urinária”. E, nesses casos, a toma deste tipo de fármacos não é necessária.

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Isto acontece, por exemplo, em “mulheres na pós-menopausa” que, “pela sua alteração de estrogénios, acabam por desenvolver uma atrofia vaginal e alguma irritabilidade na zona vulvovaginal”.

Neste contexto, “também se perceciona, muitas vezes, como uma infeção urinária aquilo que não é”, anota.

Portanto, receita-se antibiótico apenas “quando há sintomas inequívocos de infecção e documentação bacteriológica”.

O que é recomendado atualmente é que, numa pessoa saudável, “não havendo sintomas, não vale a pena fazer análises de urina para evidenciar se existem bactérias”, explica a médica.

“Até pode ter bacteriúria – bactérias na urina -, mas não ter infeção urinária que justifique tomar um antibiótico”, sustenta.

Por isso, quando não há sintomas, “só em circunstâncias muito especiais” (por exemplo, no caso das grávidas) é que “se faz análise de urina para rastrear se há a presença de uma bactéria”.

Os “doentes imunodeprimidos” ou que “tenham problemas estruturais a nível do trato urinário”, por exemplo, também devem ser avaliados de forma diferente em caso de infeção urinária.

Além disso, a “suscetibilidade individual” também pode influenciar o diagnóstico. As pessoas com diabetes ou as “pessoas algaliadas” fazem parte de “situações muito particulares em que a gestão já é mais complexa”, sustenta Anabela Rodrigues.

Fora isso, “não se deve prescrever antibióticos em bacteriúrias assintomáticas”, conclui. 

Como prevenir infeções urinárias?

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Segundo Anabela Rodrigues, existem algumas medidas preventivas que podem ajudar a prevenir as infeções urinárias. “Beber muitos líquidos, não reter urina, ir várias vezes à casa de banho e não estar muito tempo sem urinar” são algumas das dicas dadas pela nefrologista.

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Também é prudente “usar a velha regra de fazer uma limpeza de frente para trás, após uma defecação”, salienta.

Por último, “algumas mulheres sentem que há uma relação entre a atividade sexual e a infeção urinária, devido à proximidade anatómica”. E, de facto, “alguns germicidas da atividade sexual, muitas vezes, acabam por alterar a flora vulvovaginal e propiciar infeções urinárias”.

Neste sentido, aconselha-se, com frequência, as mulheres a “urinarem depois de terem relações sexuais”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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13 Jul 2023 - 11:09

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